Nunca em nenhuma época do mundo a humanidade esteve tão dispersa entre si. O individualismo humano não chegou ao seu ápice, mas está próximo. A substituição da interação presencial está a ponto de desaparecer, restando apenas aquelas oito horas diárias onde todos se esbarram no transporte público e o restante, tem a sorte de xingar, esbravejar e buzinar no conforto do ar-condicionado de seu carro.
O homem sempre odiou a própria espécie, e as guerras que mancham nossa história é o argumento irrefutável. Governos contra governos, norte contra sul, Alemanhã Nazista contra a União Soviética, União Soviética contra os Estados Unidos. Armas contra armas. Mas, com a chegada da tecnologia da internet e informação, a batalha agora está muito mais intimista e pessoal. Todos os dias comentários e mais comentários violentos surgem. Se uma garota acima do peso publicar uma foto, não há dúvidas de que surgirá alguém falando maldades sobre o corpo dela. A internet é um vírus que é capaz de permitir a ascensão do pior lado das pessoas. Por consequência das ações destes lados sombrios, acabam por criar um distanciamento entre os indivíduos.
Com uma dosagem grande da natureza humana sendo liberada nas redes sociais, não resta força para mais ninguém suportar uma conversa descontraída com um estranho no metrô, ou escutar o monólogo de um idoso na fila do mercado.
Pulse é um filme do gênero terror, de 2001, que pode ser considerado futurista por contar os eventos que não aconteciam naquela época, mas viriam a acontecer. Estamos no meio dos eventos contados no longa. Não passamos de fantasmas desolados, buscando um espaço entre os vivos ao passo que já estamos mortos, presos à tecnologia. O desaparecimento de pessoas pelo mundo no terceiro ato representa nada mais do que o momento em que alguém resolve virar um adepto da rede. Ao fazer isso, simplesmente desaparecemos. Mesmo que tentemos viver, somos escravos das redes sociais. Precisamos postar aquela foto no Instagram ou Facebook. A escravidão nos transformou em espíritos solitários, onde a interação humana não significa nada além de uma informação interessante para mostrar aos seguidores.
E nos primeiros minutos do filme podemos ver como a obra aponta a perpetuação da violência nas vidas dos indivíduos por meio da internet. A velocidade com que a informação é registrada e transmitida traz o ponto do observador sobre cenas violentas. Se alguém filma um homicídio e divulga, acaba por prolongar o sofrimento da vítima, que tem sua morte repetida diversas vezes, tanto por curiosos desavisados, tanto por sádicos que tem o prazer em enxergar a estética da violência realística quase que como um fetiche sexual.
Texto por: Ivan Campelo
- Título Original; Kairo
- Pulse/119 min/Terror
- Direção: Kiyoshi Kurosawa
- Roteiro: Kiyoshi Kurosawa
- Produção: Shun Shimizu, Seiji Okuda, Ken Inoue, Atsuyuki Shomoda
- Elenco: Kumiko Aso, Haruhiko Kato, Koyuki, Kurume Arisaka